quinta-feira, 31 de julho de 2008

A Cama

"Sinha Vitória desejava possuir uma cama igual à de seu Tomás de bolandeira. Doidice. Não dizia nada para não contrariá-la, mas sabia que era doidice. Cambebes podem ter luxo?"

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Uma cama, meu.
Uma cama...
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(Cama Ama Alma Calma Karma)
Tudo Bem II (Extromodos)

Ali embaixo da ponte mora o frio
O medo mora lá também
Quem não tá lá já vive bem
Quem não tá lá nunca sentiu

O carro passa, o homem passa,
A chuva passa e a gente fica
Pra que chorar? Temos a ponte
Tem muita gente que tá pior
Temos a vida, temos o craque
É uma viagem, é bem melhor

Saia pra rua, traga o sustento
Quero do bom, quero alimento
Se não tiver, traga uma pedra
Já dá pra encher minha cabeça
Vamos comer o pensamento
Vamos comer não se esqueça

Cabeça cheia, cheia de vento
E na barriga nem isso tem
Eu tô na boa, eu tô tranqüilo
Vamos morrendo, tá tudo bem...

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Vidas Secas

Como eu já tinha comentado antes, eu vou começar a me focar mais e mais no vestibular, e vou tentar ler apenas literatura brasileira, deixar Kundera de lado...
Agora eu estou lendo Vidas Secas. Para mim é um momento especial cada vez que eu começo a ler um livro, mas este particularmente é SHUMP Especial!!!
Faz muito tempo que eu anseio por lê-lo, desde quando eu tinha 17 anos. Nesta época eu estava morando em Itaparica (BA) e fazia o terceirão. Meu professor de Português começou então a fazer um trabalho sobre os livros que iriam cair nos vestibulares da UFBA, UCSal e UNEB; e Vidas Secas estava entre eles.
O meu amigo que apresentou o trabalho sobre este livro o fez com tanta paixão, foi tão emocionante para mim, tão cativante, que eu também fiquei apaixonada pela história, morrendo de vontade de lê-la, saboreá-la em cada palavra!
Só que eu não consegui obtê-lo, e eu acabei me conformando e adiando a minha leitura...
Então eu passei no vestibular, fui pra Curitiba, e era tanta coisa nova, tanta coisa que eu tinha que me preocupar que eu acabei esquecendo-me dele... E eis que agora ele retorna à minha vida!
:)
Não o terminei ainda; estou curtindo ao máximo cada segundo que eu gasto com ele, mas eis aqui alguns fragmentos para imortalizar:

"Num cotovelo do caminho avistou um canto de cerca, encheu-o a espeança de achar comida, sentiu desejo de cantar. A voz saiu-lhe rouca, medonha. Calou-se para não estragar força.
(...)
Nesse ponto Baleia arrebitou as orelhas, arregaçou as ventas, sentiu o cheiro de preás, farejou um minuto, localizou-os no morro próximo e saiu correndo.
Fabiano seguiu-a com a vista e espantou-se: uma sombra passava por cima do monte. Tocou o braço da mulher, apontou o céu, ficaram os dois algum tempo aguentando a claridade do sol. Enxugaram as lágrimas, foram agachar-se perto dos filhos, suspirando, conservaram-se encolhidos, temendo que a nuvem se tivesse desfeito, vencida pelo azul terrível, aquele azul que deslumbrava e endoidecia a gente."

"Fabiano dava-se bem com a ignorância. Tinha o direito de saber? Tinha? Não tinha.
- Está aí.
Se aprendessem qualquer coisa, necessitaria aprender mais, e nunca ficaria satisfeito."

"Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta, esgaravetou as unhas sujas. Tirou do aió um pedaço de fumo, pocou-o, fez um cigarro com palha de milho, acendeu-o ao binga, pôs-se a fumar regalado.
- Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era um homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terras alheias, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgáva-se cabra.
Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
- Você é um bicho, Fabiano.
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer as dificuldades.
Chegara naquela situação medonha - e ali estava, forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha.
- Um bicho, Fabiano."