domingo, 9 de junho de 2013

Laranja Mecânica, de Anthony Burgess

Sabe que, relendo as páginas que eu separei para passar aqui pro blog, me deu uma vontade imensa de lê-lo outra vez. Nossa! O livro é ótimo! Claro, era de se esperar, uma vez que o filme já é maravilhoso por si, e geralmente os livros são melhores do que os filmes.
Enfim, o livro é muito bom e recomendo. É uma ficção com muita ultraviolência, um vocabulário diferente, além da velha questão filosófica do direito do livre arbítrio e tals. Mas o mais surpreendente foi o último capítulo, que não tem no filme, e dá um sentido totalmente novo ao contexto da história. Eu não vou colocar aqui, claro; quem quiser saber, leia. :D
Ah! Dica: eu li a quarta reimpressão, de 2008. Nela tem um prefácio bem interessante sobre o Burgues e sobre o livro, que explica a disposição dos capítulos ao longo do livro. É genia!
Então, o que é que vai ser, hein?

***ALERTA: Se você ainda não viu o filme, ou leu o livro, os trechos a seguir podem conter spoilers!***

"Foi aí que o bom e velho Tosko pegou a deixa e sorriu, fazendo er er er e ha ha ha para a boca balbuciante daquele vek, crac crac, primeiro o punho esquerdo depois o direito, para que nosso querido e velho drugui, o tinto - vinho tinto de mesa e igual em todos os lugares, como se tivesse sido fabricado pela mesma empresa - começasse a derramar e a manchar o pelo tapete limpo e os pedacinhos do livro que eu ainda estava rasgando, rasgaraz rasgaraz."

"- (...) Ah, ninguém pode provar nada sobre ninguém, como sempre. Mas estou avisando, você, jovem Alex, estou sendo um bom amigo como sempre fui, o único homem nesta comunidade doente e maltratada que quer salvar você de si mesmo.
- Eu aprecio muito tudo isso, senhor - eu disse. - Com muita sinceridade.
- Ah, sim, aprecia, não é? - ele meio que debochou. - Fique esperto, é isso. Sabemos mais do que você pensa, jovem Alex. - Então ele disse, com uma goloz de grande sofrimento, mas ainda balançando: - O que é que dá em vocês todos? Nós estudamos o problema e já estamos estudando há quase um século, sim, mas os estudos não estão nos levando muito longe. Você tem uma bela casa aqui, bons pais que te amam, você não tem um cérebro lá tão ruim. É algum diabo que entra dentro de você?
- Dentro de mim não entra nada não senhor - disse eu. - Tenho estado fora das rukas dos miliquinhas já faz muito tempo.
- É justamente isso que me preocupa - suspirou P. R. Deltoid."


"Mas, irmãos, esse negócio de ficar roendo as unhas dos dedos do pé sobre qual é a cauda da maldade é que me torna um maltchik risonho. Eles não procuram saber qual a causa da bondade, então por que ir à outra loja? Se os plebeus são bons é porque eles gostam e eu jamais iria interferir com seus prazeres, e o mesmo vale para a outra loja. E eu frequento a outra loja. E mais: maldade vem de dentro, do eu, de mim ou de você totalmente odinokis, e esse eu é criado pelo velho Bog ou Deus, e é seu grande orgulho e radóstia. Mas o não-eu não pode ter o mau, quer dizer, eles lá do governo e os juízes e as escolas não conseguem permitir o mau porque não conseguem permitir o eu. E não é a nossa história moderna, meus irmãos, a história dos bravos eus malenks combatendo essas grandes máquinas? Estou falando sério sobre isso com vocês, irmãos. Mas eu faço o que eu faço porque gosto de fazer."

"E então, antes que ele me dissesse, eu já sabia o que era. A ptitsa velha que tinha todos aqueles kots e koshkas havia ido desta para melhor num dos hospitais da cidade. Parece que eu a havia espancado forte demais. Ora, ora, isso era tudo. Pensei em todos aqueles kots e koshkas miando pedindo moloko mas sem ganhar nenhum, nunca mais, daquela forela starre que era a dona deles. Isso era tudo. Eu estava condenado. E só tinha quinze anos."

"- Ah, será bom ser bom, senhor. - Mas por dentro eu estava smekando muito horrorshow, irmãos. Ele disse:
- Pode não ser bom ser bom, pequeno 6655321. Ser bom pode ser horrível. E quando digo isso a você percebo o quão contraditório isso soa. Eu sei que perderei muitas noites de sono por causa disso. O que Deus quer? Será que Deus quer insensibilidade ou a escolha da bondade? Será que um homem que escolhe um mal é talvez melhor do que um homem que teve o bem imposto a si? Questões difíceis, pequeno 6655321. Mas tudo o que eu quero dizer a você agora é isto: se em algum momento no futuro você olhar para esta época e se lembrar de mim, o mais desprezível e humilde de todos os servos de Deus, rogo a você, não pense mal de mim em teu coração, imaginando que estou de alguma maneira envolvido no que está para acontecer a você agora. E, falando a rogar, percebo que não há muito por que rezar por você. Você está passando agora para uma região onde estará além do alcance do poder da oração. Uma coisa terrível, terrível de se pensar. E mesmo assim, sob um certo ponto de vista, ao escolher ser privado da capacidade de fazer uma escolha ética, você de certa forma escolheu o bem. Gostaria de crer nisso. Então, que Deus ajude a todos, 6655321. Assim eu gostaria de pensar."

"- Chega, assim já está bom. - Então aquele vek horrível tipo assim se curvou e saiu dançando feito um ator enquanto as luzes se acendiam e eu ficava piscando com a rot aberta uivando. O Dr. Brodsky disse para a platéia: - Nossa cobaia é, como vocês estão vendo, impelida para o bem, paradoxalmente, por ser impelida na direção do mal. A intenção de agir de modo violento é acompanhada por fortes sensações de mal estar físico. Para contrabalancear isso, a cobaia precisa mudar para uma atitude diametralmente oposta. Alguma pergunta?
- Escolha - resmungou uma goloz rica e profunda. - Ele não tem nenhuma escolha, tem? A preocupação consigo mesmo, o medo da dor física, o levaram a esse ato grotesco de autodepreciação. Sua sinceridade estava clara. Ele deixa de ser um malfeitor. Ele também deixa de ser uma criatura capaz de escolha moral.
- Isso são sutilezas - o Dr. Brodsky meio que sorriu. - Não estamos preocupados com o motivo, com uma ética superior. Estamos preocupados apenas em reduzir os crimes...
- E - interrompeu aquele Ministro bolshi bem-vestido - com a redução da assustadora superlotação de nossos presídios.
- Apoiado - disse alguém.
Então muito se govoretou e se argumentou e eu simplesmente fiquei ali parado, irmãos, tipo assim completamente ignorado por todos aqueles bratchnis ignorantes, então krikei:
- Eu, eu, eu. E eu? Onde é que eu entro nisso tudo? Será que eu sou apenas uma espécie de animal ou cão? - E isso fez com que eles começassem a govoretar ainda mais alto e lançar slovos para mim. Então eu kreikei mais alto, ainda krikando: - Será que eu serei apenas uma laranja mecânica?"