segunda-feira, 24 de maio de 2010

Eu

"Era uma vez, um cientista que vivia preocupado com os problemas do mundo e decidido a encontrar meios de melhorá-los. Passava dias e dias no seu laboratório à procura de respostas.

Um dia, o seu filho de sete anos invadiu o seu santuário querendo ajudar o pai a trabalhar. Claro que o cientista não queria ser interrompido e, por isso, tentou que o filho fosse brincar em vez de ficar ali a atrapalhá-lo. Mas, como o menino era persistente, o pai teve de arranjar forma de entretê-lo, ali mesmo no laboratório. Foi então que reparou num mapa do mundo que vinha numa página de uma revista. Lembrou-se de cortar o mapa em vários pedaços e depois apresentou o desafio ao pequenote:

- Filho, vais ajudar-me a consertar o mundo! Aqui está o mundo todo partido. E tu vais arranjá-lo para que ele fique bem outra vez! Quando terminares chamas-me, ok?

O cientista estava convencido que a criança levaria dias a resolver o quebra-cabeças que ele tinha construído. Mas surpreendentemente, poucas horas depois, o filho já chamava por ele:

- Pai, pai, já fiz tudo. Consegui consertar o mundo!

O pai não queria acreditar, achava que era impossível um miúdo daquela idade ter conseguido montar o quebra-cabeças de uma imagem que ele nunca tinha visto antes. Por isso, apenas levantou os olhos dos seus cálculos para ver o trabalho do filho que, pensava ele, não era mais do que um disparate digno de uma criança daquela idade. Porém, quando viu o mapa completamente montado, sem nenhum erro, perguntou ao filho como é que ele tinha conseguido sem nunca ter visto um mapa do mundo anteriormente.

- Pai, eu não sabia como era o mundo, mas quando tiraste o papel da revista para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem. Quando me deste o mundo para eu consertar, eu tentei mas não consegui. Foi aí que me lembrei do homem, virei os pedaços de papel ao contrário e comecei a consertar o homem que eu sabia como era. Quando consegui consertar o homem, virei a folha e vi que tinha consertado o mundo."

Esta história eu li há muito tempo atrás. O autor (segundo as minhas fontes) é desconhecido.
Eu sempre gostei dela. É bonita. É poética. É inspiradora.
E realmente eu sempre tento fazer isso.
Se eu acho que no mundo falta tolerância, eu tento ser tolerante.
Se eu acho que no mundo falta justiça, eu tento ser justa.
Se eu acho que no mundo falta piedade, eu tento ser piedosa.
E sinceramente eu acho que não seja uma pessoa má.

Mas semana passada eu ouvi algo de alguém que eu amo muito.
Eu quero consertar o mundo, então eu tento sempre me consertar primeiro.
Mas eu nunca tinha colocado essa frase com a palavra "salvar".

Eu quero salvar o mundo, sim.
Eu quero um mundo melhor para todos.
(Utópico, sim. Impossível? Acho que não.)
Mas o que eu estou fazendo para me salvar?
O que eu faço pela minha vida?
Por mim?

Eu vivo dizendo para a Gabi que ela precisa ter mais amor próprio.
E eu?
Não, não é que eu não tenha amor próprio. Mas é que eu sempre acabo amando muito mais os outros do que a mim.
Aquele mandamento, sabe? Amar ao próximo como a ti mesmo?
Pois é, acho que eu amo os outros demais.
Eu me sacrifico demais.
Eu geralmente penso nos outros antes de pensar em mim.
Em todos os outros.
E eu acabo ficando por último.

Não, não é um post louvando o egoísmo.
É só uma tentativa de eu conseguir ser mais egoísta.
De me amar um pouquinho mais. De pensar um pouco mais em mim. De deixar de ser idiota e pensar que eu não mereço nada.

Quem sabe...