quinta-feira, 31 de julho de 2008

A Cama

"Sinha Vitória desejava possuir uma cama igual à de seu Tomás de bolandeira. Doidice. Não dizia nada para não contrariá-la, mas sabia que era doidice. Cambebes podem ter luxo?"

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Uma cama, meu.
Uma cama...
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(Cama Ama Alma Calma Karma)
Tudo Bem II (Extromodos)

Ali embaixo da ponte mora o frio
O medo mora lá também
Quem não tá lá já vive bem
Quem não tá lá nunca sentiu

O carro passa, o homem passa,
A chuva passa e a gente fica
Pra que chorar? Temos a ponte
Tem muita gente que tá pior
Temos a vida, temos o craque
É uma viagem, é bem melhor

Saia pra rua, traga o sustento
Quero do bom, quero alimento
Se não tiver, traga uma pedra
Já dá pra encher minha cabeça
Vamos comer o pensamento
Vamos comer não se esqueça

Cabeça cheia, cheia de vento
E na barriga nem isso tem
Eu tô na boa, eu tô tranqüilo
Vamos morrendo, tá tudo bem...

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=/

Vidas Secas

Como eu já tinha comentado antes, eu vou começar a me focar mais e mais no vestibular, e vou tentar ler apenas literatura brasileira, deixar Kundera de lado...
Agora eu estou lendo Vidas Secas. Para mim é um momento especial cada vez que eu começo a ler um livro, mas este particularmente é SHUMP Especial!!!
Faz muito tempo que eu anseio por lê-lo, desde quando eu tinha 17 anos. Nesta época eu estava morando em Itaparica (BA) e fazia o terceirão. Meu professor de Português começou então a fazer um trabalho sobre os livros que iriam cair nos vestibulares da UFBA, UCSal e UNEB; e Vidas Secas estava entre eles.
O meu amigo que apresentou o trabalho sobre este livro o fez com tanta paixão, foi tão emocionante para mim, tão cativante, que eu também fiquei apaixonada pela história, morrendo de vontade de lê-la, saboreá-la em cada palavra!
Só que eu não consegui obtê-lo, e eu acabei me conformando e adiando a minha leitura...
Então eu passei no vestibular, fui pra Curitiba, e era tanta coisa nova, tanta coisa que eu tinha que me preocupar que eu acabei esquecendo-me dele... E eis que agora ele retorna à minha vida!
:)
Não o terminei ainda; estou curtindo ao máximo cada segundo que eu gasto com ele, mas eis aqui alguns fragmentos para imortalizar:

"Num cotovelo do caminho avistou um canto de cerca, encheu-o a espeança de achar comida, sentiu desejo de cantar. A voz saiu-lhe rouca, medonha. Calou-se para não estragar força.
(...)
Nesse ponto Baleia arrebitou as orelhas, arregaçou as ventas, sentiu o cheiro de preás, farejou um minuto, localizou-os no morro próximo e saiu correndo.
Fabiano seguiu-a com a vista e espantou-se: uma sombra passava por cima do monte. Tocou o braço da mulher, apontou o céu, ficaram os dois algum tempo aguentando a claridade do sol. Enxugaram as lágrimas, foram agachar-se perto dos filhos, suspirando, conservaram-se encolhidos, temendo que a nuvem se tivesse desfeito, vencida pelo azul terrível, aquele azul que deslumbrava e endoidecia a gente."

"Fabiano dava-se bem com a ignorância. Tinha o direito de saber? Tinha? Não tinha.
- Está aí.
Se aprendessem qualquer coisa, necessitaria aprender mais, e nunca ficaria satisfeito."

"Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta, esgaravetou as unhas sujas. Tirou do aió um pedaço de fumo, pocou-o, fez um cigarro com palha de milho, acendeu-o ao binga, pôs-se a fumar regalado.
- Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era um homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terras alheias, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgáva-se cabra.
Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
- Você é um bicho, Fabiano.
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer as dificuldades.
Chegara naquela situação medonha - e ali estava, forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha.
- Um bicho, Fabiano."

quarta-feira, 30 de julho de 2008

O homenzinho do narigão verde

"Ela pediu o menu mais simples e notou um boneco colocado no meio da mesa. Era um homenzinho de borracha, um boneco de propaganda. O homenzinho tinha o corpo grande, as pernas curtas e um nariz verde monstruoso que lhe descia até o umbigo. (...)
Imaginou que se dava vida ao homenzinho. Uma vez dotado de alma, sem dúvida ele sentiria uma viva dor se alguém, como Agnes fazia naquele momento, se divertisse em torcer seu nariz verde e emborrachado. Logo nasceria nele o medo dos homens, pois todo mundo iria apertar esse nariz ridículo, e a vida do homenzinho não seria senão medo e sofrimento.
(...) Um dia, alguém lhe estenderia um espelho e desde então iria desejar esconder seu rosto entre as mãos, porque sentiria uma terrível vergonha diante das pessoas. (...)
Agnes pensava: é curioso imaginar que o homenzinho sentiria vergonha? Será ele responsável por seu nariz verde? Ao contrário, não levantaria os ombros com indiferença? Não, não levantaria os ombros. Teria vergonha. Quando o homem descobre pela primeira vez seu físico, não é nem indiferença nem raiva que sente em primeiro lugar e com maior intensidade, mas a vergonha, uma vergonha fundamental que, com altos e baixos, mesmo atenuada pelo tempo, o acompanhará a vida inteira.
(...) A vergonha não tem por fundamento um erro que cometemos, mas a humilhação que sentimos em ser o que somos sem o termos escolhido, e a sensação insuportável de que essa humilhação é evidente para todos.
Nada de espantoso se o homenzinho de narigão verde tem vergonha de seu rosto. Mas então o que dizer do pai de Agnes? Ele era bonito!
Sim, era. Mas o que é a beleza do ponto de vista matemático? Existe a beleza quando um exemplar é tão semelhante quanto possível ao protótipo original. Imaginemos que tenhamos posto no computador as dimensões mínimas e máximas de todas as partes do corpo: entre três e sete centímetros de comprimento o nariz, entre três e oito de altura de testa, e assim por diante. É feio o homem cuja testa mede seis centímetros e o nariz apenas três. Feiúra: caprichosa poesia do acaso. Num homem bonito, o jogo dos acasos escolheu uma média de todas as medidas. Beleza: prosaismo da média exata. Na beleza, mais ainda que na feiúra, manisfesta-se o caráter não-individual, não-pessoal do rosto. Em seu rosto, o homem bonito vê o projeto técnico original, tal qual o desenhou o autor do protótipo, e ele tem dificuldade em acreditar que aquilo que vê seja inimitável. De modo que sente vergonha, exatamente como o homenzinho do nariz verde.
Quando seu pai estava agonizante, Agnes ficou sentada ao lado da cama. Antes de entrar na fase final da agonia ele lhe disse:
- Não me olhe mais, e foram as últimas palavras que ouviu dele, sua última mensagem.
Ela obedeceu; inclinando a cabeça para o chão, fechando os olhos, só segurou sua mão e apertou-a; deixou que partisse, lentamente e sem ser visto, para o mundo onde não existem rostos."

(Fragmento de A Imortalidade)

Imagologia

"... Há mais ou menos cem anos, na Rússia, os marxistas perseguidos formaram pequenos círculos clandestinos em que estudavam em conjunto o Manifesto de Marx; simplificaram o conteúdo dessa ideologia para difundi-la em outros círculos cujos membros, simplificando por sua vez esa simplificação do simples, a transmitiram e propagaram até o momento em que o marxismo, conhecido e poderoso em todo o planeta, viu-se reduzido a uma coleção de seis ou sete slogans tão precariamente ligados entre si, que dificilmente podemos considerá-lo como ideologia. E como tudo que ficou de Marx não forma mais nenhum sistema lógico de idéias, mas apenas uma seqüência de imagens e emblemas sugestivos (o operário que sorri segurando seu martelo, o branco estendendo a mão ao amarelo e ao negro, a pomba da paz voando, etc.), podemos justificadamente falar de uma transformação progressiva, geral e planetária da ideologia em imagologia.
(...)
... nos últimos decênios, a imagologia alcançou uma vitória histórica sobre a ideologia.
Todas as ideologias foram derrotadas: seus dogmas acabaram sendo desmascarados como ilusões e as pessoas deixaram de levá-las a sério. Por exemplo, os comunistas acreditaram que a evolução do capitalismo iria empobrecer cada vez mais o proletariado: um dia, ao descobrir que todos os trabalhadores da Europa iam de carro para o trabalho, tiveram vontade de gritar que tinham sido enganados pela realidade. A realidade era mais forte do que a imagologia. E é precisamente nesse sentido que a imagologia a ultrapassou: a imagologia é mais forte do que a realidade... (...) Em Paris, meu vizinho de andar passa a maior parte do seu tempo sentado em seu escritório diante de um outro empregado, depois volta para casa, liga a televisão para saber o que acontece no mundo, e quando o apresentador, comentando a última sondagem informa que para a maioria dos franceses a França é a campeã da Europa em matéria de segurança (li, recentemente, essa sondagem), louco de alegria, abre uma garrafa de champanha e nunca saberá que no mesmo dia, na mesma rua em que mora, foram cometidos três assaltos e dois assassinatos."

(Fragmento de A Imortalidade)

A unicidade do Eu

"Em nosso mundo, em que aparecem cada dia mais e mais fisionomias que se parecem cada vez mais e mais, não é tarefa fácil para o homem querer continuar a originalidade do seu eu e conseguir convencer-se de sua inimitável unicidade. Há dois métodos para cultivar a unicidade do seu eu: o método aditivo e o método subtrativo. Agnes subtrai de seu eu tudo que é exterior e emprestado, para, desta forma, aproximar-se de sua essência pura (correndo o risco de chegar a zero com essas subtrações sucessivas). O método de Laura é exatamente inverso: para tornar seu eu mais visível, mais fácil de ser apreendido, para dar-lhe mais consistência, ela acrescenta-lhe sem cessar novos atributos, aos quais tenta se identificar (correndo o risco de perder a essência do eu sob esses atributos adicionados).
(...)
O método aditivo é inteiramente agradável se acrescentarmos ao eu um cachorro, uma gata, um assado de porco, o amor do oceano ou as duchas frias. As coisas tornam-se menos idílicas se decidimos acrescentar ao eu a paixão pelo comunismo, pela pátria, por Mussolini, pela Igreja Católica, pelo ateísmo, pelo fascismo ou pelo anti-fascismo. Nos dois casos, o método continua exatamente o mesmo: aquele que defende insistentemente a superioridade dos gatos sobre os outros animais faz, em essência, a mesma coisa que proclama Mussolini o único salvador da Itália: ele apregoa um atributo do seu eu e empenha-se totalmente para que esse atributo (um gato ou Mussolini) seja reconhecido e amado por todos que o cercam.
Esse é o estranho paradoxo de que são vítimas todos aqueles que recorrem ao método aditivo para cultivar seu eu: esforçam-se em adicionar para criar um eu inimitavelmente único, mas tornando-se ao mesmo tempo os propagandistas desses atributos adicionados, fazem tudo para que o maior número de pessoas se pareçam com eles; e então a unicidade do seu eu (tão trabalhosamente conquistado) logo desaparece."

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(Fragmento de A Imortalidade)

domingo, 27 de julho de 2008

Por favor, cativa-me!

"E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho que se voltou mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita.
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o princípe, estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho. Após uma reflexão, acrescentou: - O que quer dizer cativar ?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa criar laços...
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...
Mas a raposa voltou a sua idéia:
- Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música. E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me!
Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" .

(Fragmento de O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry)

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Eu gosto muito deste livro, O Pequeno Príncipe. Eu lembro que eu li ele quando eu era muito novinha... E eu voltei a lê-lo alguns anos atrás. O livro é singelo, ingênuo, e é isto o que eu mais gosto nele.
Este trecho é um dos mais belos do livro, mas também é um dos que mais me pesam... "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"...
Será?
...
Eu penso muito a respeito disto; para mim, esta pergunta pertence à categoria de perguntas que não devem ser feitas, pois sua resposta machuca, seja ela qual for.

sábado, 26 de julho de 2008

Retrato - Cecília Meirelles

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo

Eu não tinha etas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida
a minha face?
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Adoro esta poesia.
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(Continuo me sentindo velha...)
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sexta-feira, 25 de julho de 2008

Personagens

Eu estava pensando: se você pudesse se definir em um personagem - de um livro, filme, enfim - qual personagem você seria?
Pois é, eu sou meio esquisita mesmo; eu fico pensando nessas coisas estranhas... hehehe
Enfim, eu fiz essa pergunta uma vez para um amigo meu; ele pensou um pouco e me falou que ele era como Dom Quixote... Um outro me disse que seria como Hari Seldon, da trilogia Fundação (Asimov - Recomendo!).
Quem seria você?
...
(E quem sou eu?
Uma mistura de Mathieu com Jaromil...)

A Imortalidade, mais uma vez

Ainda lendo A Imortalidade, encontrei um fragmento que traduz meu pensamento em relações a várias coisas, inclusive em como eu me sinto quando leio um livro - principalmente se for do Kundera. Aliás, livro indescritível este, vou aproveitar o fim de semana e postar mais fragmentos dele aqui...

“- O que você está escrevendo exatamente?
- Não é reproduzível.
- Pena.
- Porque pena? É uma sorte. Hoje em dia as pessoas vão encima de tudo que foi escrito para transformar em filme, em drama de televisão ou em desenho animado. Já que o essencial no romance é aquilo que não pode ser dito senão por um romance, em toda adaptação só fica o que não é o essencial. Quem quer que seja suficientemente louco para hoje ainda escrever romances, deve, se quiser protegê-los com segurança, escrevê-los de maneira tal que não possam ser adaptados, em outras palavras, que não possam ser contados.
Ele não era dessa opinião:
- Posso contar a você com o maior prazer
Os três mosqueteiros de Alexandre Dumas, quando você quiser, de ponta a ponta!
- Sou como você, gosto de Alexandre Dumas, disse eu. No entanto lamento que quase todos os romances escritos até hoje obedeçam demais à regra da unidade de ação. Isto é, que estejam fundamentados apenas numa seqüência causal de ações e acontecimentos. Esses romances parecem uma rua estreita, ao longo da qual os personagens são perseguidos com chicotadas. A tensão dramática é a verdadeira maldição do romance, porque transforma tudo, mesmo as mais belas páginas, mesmo as cenas e as observações mais surpreendentes, numa simples etapa que leva ao desfecho final, onde se concentra o sentido de tudo que precede. Devorado pelo fogo de sua própria tensão, o romance se consome como um monte de palha.
- Escutando você, disse timidamente o professor Avenarius, tenho medo de que seu romance seja chato.
- Deve-se então considerar chato tudo que não é uma corrida frenética para o desenlace final? Ao saborear esta coxa de pato, será que você se chateia? Você se apressa para o final? Pelo contrário, você quer que o pato entre em você o mais lentamente possível e que seu sabor se eternize. O romance não deve ser parecido com uma corrida de bicicleta, mas sim com um banquete onde se servem muitos pratos. Espero com impaciência a sexta parte. Um novo personagem vai surgir no meu romance. E no fim dessa sexta parte ele desaparece como chegou, sem deixar traço. Ele não é a causa de nada e não produz nenhum efeito. É justamente o que me agrada. Será um romance num romance, e a história erótica mais triste que já escrevi. Até você ficará triste.
Avenarius guardou um silêncio embaraçado, depois me perguntou gentilmente:
- E qual será o título do seu romance?
- A insustentável leveza do ser.
- Mas esse título já está tomado.
- Sim. Por mim! Mas na época me enganei de título. Ele deveria pertencer ao romance que estou escrevendo agora.”

terça-feira, 22 de julho de 2008

Fragmento de A Imortalidade

"Não vá me dizer que dois homens em desacordo profundo podem se amar; são contos da carochinha. Talvez pudessem se amar se guardassem para eles próprios suas opiniões, não falando sobre isso a não ser em tom de brincadeira para diminuir a importância delas (foi assim que Paulo e Grizzly conversaram até agora). Mas depois que a briga estourou, foi tarde demais. Não que acreditassem tanto nas opiniões que defendiam, mas não suportavam não ter razão. Olhe os dois. Além de tudo, essa briga não vai mudar nada de nada, não chegará a nenhuma conclusão, não mudará a marcha dos acontecimentos, é completamente estéril, inútil, limitada ao perímetro dessa cantina e à sua atmosfera fétida, com a qual desaparecerá quando as faxineiras abrirem as janelas. No entanto, veja a concentração do pequeno grupo de ouvintes, apertados em volta da mesa! Todos escutam em silêncio, até esquecendo de tomar café. E os dois adversários se agarram a essa minúscula opinião pública, que vai designar ou um ou outro como o detentor da verdade: para cada um deles, ser designado como aquele que não a detém equivale a uma desonra. Ou a perder um pedaço do seu eu. Na realidade, pouco importa a eles a opinião que defendem. Mas como fizeram disso um atributo do seu eu, cada ataque a essa opinião é uma aguilhoada em suas carnes."

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Uau! Quatro dias sem postar! Que recorde!
(A propósito, lê-se rê-cór-dê, e não ré-cór-dê, pois se fosse ré-cór-de seria uma proparoxítona e, portanto, seria acentuada - o que ela não é. Mania de estrangeirar tudo, viu! É como katchup. Todo mundo fala kétchup. Mas não é assim que devia se falar! Quer falar num ingrêis chik, fale kétchãp; ou então fale kátchup mesmo, ora bolas!)
Final de semana interessante, o último das férias.
Assisti Batman - O Cavaleiro das Trevas (dublado - argh!). Filme muito bom, cheio de ação e morte, como um filme massa tem que ser! hehehe
A performance do ator Heath Ledger, que faz o vilão Coringa, é um show à parte. Ele faz uns trejeitos com a boca, tem um jeito de andar, um olhar... Meu, tudo ficou ótimo! Eu não botava muita fé não, mas ele conseguiu superar o Coringa do primeiro filme do Batman, que foi interpretado por Jack Nicholson.
Enfim, assistam, vale a pena.

O que eu queria comentar é uma parte do filme muito interessante: tem uma hora que o coringa coloca explosivos em dois navios, e ele deixa o controle dos explosivos nos navios. Só que o detonador que está no navio A detona o navio B, e o detonador que está em posse dos ocupantes do B detona o navio A. Os dois navios estão cheios de gente. Os navios tem 15 minutos para explodir um ao outro; quem resolver explodir o outro primeiro se salva. MAS se nenhum se explodir, ele explodirá os dois ao término destes 15 minutos.
...
Bah! Que foda, hein?!?!!?
Isto me lembrou um teste que eu vi há muitos anos atrás em uma revista. Eu não lembro que teste é este, mas era o seguinte: dois ladrões são presos por um crime qualquer, e os dois são mantidos em celas separadas, e os depoimentos são também em separado. Se o preso 1 disser que o preso 2 é o culpado pelo crime, e o preso 2 não disser nada, o 1 é livre e o 2 pega 20 anos de prisão. Se, ao contrário, o preso 1 não disser nada e o preso 2 o acusar, o 2 é libertado e o 1 pega 20 anos de prisão. Caso os dois se acusem mutuamente, eles pegam 30 anos de prisão. Mas, se nenhum se acusar, a pena é de 10 anos de prisão.
Boa questão, essa, hein?
O que faria você, se você e alguém que você considere amigo fossem os personagens desta história?

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Dicas para mamãe :)

Para entrar no seu próprio blog, você pode ir em http://www.blogger.com/ , fazer seu login, e a partir daí mexer como quiser em seu blog.
OU
Você pode também colocar o endereço do blog alí encima, por exemplo http://confidentia-lu.blogspot.com/ , e se quiser fazer login, é só clicar no ícone login que está, provavelmente, no canto superior encima. Mas não precisa ser necessariamente no seu blog; até pelo meu você pode fazer login; o procedimento é o mesmo.
OU
Quando você faz um comentário em um blog, o seu nome, que é um tipo de título do cemoentário, vira um hiperlink para o seu perfil. No seu perfil há os hiperlinks para o seu blog, ou blogs, se você tiver mais de um. Então você pode clicar lá que você sai diretamente no seu blog!!!

EeEeEeEeEeEeEe!!!!!

Mas dê uma olhada nos meus sites, ok?
;P

quinta-feira, 17 de julho de 2008

A respeito da Verdade

Eu não estou muito afim de escrever um texto meu aqui, agora. Na verdade, eu estou morrendo de cansaço; finalmente consegui finalizar hoje os exercícios do livro de matemática; amanhã começo a estudar química. Aliás, me ocorreu outro dia que faltam menos de seis meses para o vestibular (!!!), então eu vou parar de ler tantas obras estrangeiras e me focar apenas no nacional.
Enfim; tô cansada, quero ir dormir, já são meia noite e 13. Vou colocar um poeminha bonitinho do Drummond aqui (aliás, Drummond cai no vestiba da USP) e amanhã eu comento, prometo.
Boa noite para todo mundo.
ps: Ah, sim! Tenho que treinar meu inglês para o vestibular, também, então vou postar de vez em quando algumas coisas em inglês... :)
(Mas já perdoem de antemão meus erros... hehehe)


Verdade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Telefone Amigo

(A primeira vez que eu li este texto foi em 2001, quando eu recém tinha chegado a Corbélia. Eu o tirei do site www.sorria.com.br, nem sei se ainda existe. Na primeira vez que eu li ele me emocionou pra caramba; toda vez que eu leio ele me toca... É bem difícil eu não chorar ao lê-lo.)



"Quando eu era criança, meu pai comprou um dos primeiros telefones da vizinhança. Lembro-me bem daquele velho aparelho preto, em forma de caixa, bem polido, afixado à parede. O receptor brilhante pendia ao lado da caixa.
Eu ainda era muito pequeno para alcançar o telefone, mas costumava ouvir e ver minha mãe enquanto ela o usava, e ficava fascinado com a cena! Então, descobri que em algum lugar dentro daquele maravilhoso aparelho existia uma pessoa maravilhosa, e o nome dela era "Informação, por favor", e não havia coisa alguma que ela não soubesse.
"Informação, por favor" poderia fornecer o número de qualquer pessoa e até a hora certa.
Minha primeira experiência pessoal com esse "gênio da lâmpada" aconteceu num dia em que minha mãe foi na casa de um vizinho. Divertindo-me bastante mexendo nas coisas da caixa de ferramentas no porão, machuquei meu polegar com um martelo.
A dor foi horrível, mas não parecia haver qualquer razão para chorar, porque eu estava sozinho em casa e não tinha ninguém para me consolar. Eu comecei a andar pelo porão, chupando meu dedão que pulsava de dor, chegando finalmente à escada e subindo-a.
Então, lembrei-me: o telefone!
Rapidamente peguei uma cadeira na sala de visitas e usei-a para alcançar o telefone. Desenganchei o receptor, segurei-o próximo ao ouvido como via minha mãe fazer e disse: "Informação, por favor!"
Alguns segundos depois, uma voz suave e bem clara falou ao meu ouvido: "Informação."
Então, choramingando, eu disse: "Eu machuquei o meu dedo..."
Agora que eu tinha platéia: as lágrimas começaram a rolar sobre o meu rosto.
"Sua mãe não está em casa?" , veio a pergunta.
"Ninguém está em casa a não ser eu...", falei chorando.
"Você está sangrando?" Ela perguntou.
"Não." Eu respondi. "Eu machuquei o meu dedão com o martelo e está doendo muito!"
Então a voz suave, do outro lado falou: "Você pode ir até a geladeira?"
Eu disse que sim.
Ela continuou, com muita calma: "Então, pegue uma pedra de gelo e fique segurando firme sobre o dedo."
E a coisa funcionou!
Depois do ocorrido, eu chamava "Informação, por favor" pra qualquer coisa.
Pedia ajuda nas tarefas de geografia da escola e ela me dizia onde Filadélfia se localizava no mapa.
Ajudava-me nas tarefas de matemática. Ela me orientou sobre qual tipo de comida eu poderia dar ao filhote de esquilo que peguei no parque para criar como bichinho de estimação.
Houve também o dia em que Petey, nosso canário de estimação, morreu.
Eu chamei "Informação, por favor" e contei-lhe a triste história. Ela ouviu atentamente, então falou-me palavras de conforto que os adultos costumam dizer para consolar uma criança.
Mas eu estava inconsolável naquele dia e perguntei-lhe: "Por que é que os passarinhos cantam de maneira tão bela, dão tanta alegria com sua beleza para tantas famílias e terminam suas vidas como um monte de penas numa gaiola?"
Ela deve ter sentido minha profunda tristeza e preocupação pelo fato de haver dito calmamente: "Paul, lembre-se sempre de que existem outros mundos onde se pode cantar!"
Não sei porquê, mas me senti bem melhor.
Numa outra ocasião, eu estava ao telefone: "Informação, por favor".
"Informação," disse a já familiar e suave voz.
"Como se soletra a palavra consertar?" perguntei.
Tudo isso aconteceu numa pequena cidade da costa oeste dos Estados Unidos. Quando eu estava com nove anos, nos mudamos para Boston, na costa leste. Eu senti muitas saudades de minha voz amiga!
"Informação, por favor" pertencia àquela caixa de madeira preta afixada na parede de nossa outra casa; e eu nunca pensei em tentar a mesma experiência com o novo telefone diferente que ficava sobre a mesa, na sala de nossa nova casa. Mesmo já na adolescência, as lembranças daquelas conversas de infância com aquela suave e atenciosa voz nunca saíram de minha cabeça.
Com certa freqüência, em momentos de dúvidas e perplexidade, eu me lembrava daquele sentimento sereno de segurança que me era transmitido pela voz amiga que gastou tanto tempo com um simples menininho.
Alguns anos mais tarde, quando eu viajava para a costa oeste a fim de iniciar meus estudos universitários, o avião pousou em Seattle, região onde eu morava quando criança, para que eu pegasse um outro e seguisse viagem. Eu tinha cerca de meia hora até que o outro avião decolasse.
Passei então uns 15 minutos ao telefone, conversando com minha irmã que na época estava morando lá. Então, sem pensar no que estava exatamente fazendo, eu disquei para a telefonista e disse: "Informação, por favor".
De um modo milagroso, eu ouvi a suave e clara voz que eu tão bem conhecia! "Informação."
Eu não havia planejado isso, mas ouvi a mim mesmo dizendo: "Você poderia me dizer como se soletra a palavra consertar?"
Houve uma longa pausa.
Então ouvi a tão suave e atenciosa voz responder: "Espero que seu dedo já esteja bem sarado agora!"
Eu ri satisfeito e disse: "Então, ainda é realmente você. Eu fico pensando se você tem a mínima idéia do quanto você significou para mim durante todo aquele tempo de minha infância!"
Ela disse: "E eu fico imaginando se você sabe o quanto foram importantes para mim as suas ligações!"
E continuou: "Eu nunca tive filhos e ficava aguardando ansiosamente por suas ligações."
Então, eu disse pra ela que muito freqüentemente eu pensava nela durante todos esses anos e perguntei-lhe se poderia telefonar para ela novamente quando eu fosse visitar minha irmã.
"Por favor, telefone sim! É só chamar por Sally".
Três meses depois voltei a Seattle.
Uma voz diferente atendeu: "Informação".
Eu perguntei por Sally. "Você é um amigo?" Ela perguntou.
"Sim, um velho amigo", respondi.
Ela disse: "Sinto muito em dizer-lhe isto, mas Sally esteve trabalhando só meio período nos últimos anos porque estava adoentada. Ela morreu há um mês."
Ainda perplexo e antes que eu desligasse ela disse: "Espere um pouco. Seu nome é Paul" "Sim", respondi.
"Bem, Sally deixou uma mensagem para você. Ela deixou escrita caso você ligasse. Deixe-me ler para você."
A mensagem dizia: "Diga pra ele que eu ainda continuo dizendo que existem outros mundos onde podemos cantar. Ele vai entender o que eu quero dizer".
Eu agradeci emocionado e muito tristemente desliguei o telefone.
Sim, eu sabia muito bem o que Sally queria dizer."

quarta-feira, 16 de julho de 2008

A Ignorância

Uma coisa que eu não gosto é a ignorância.
Odeio.

Não a ignorância que surge pelo fato de não saber algo; eu seria hipócrita se assim fosse - é só ver o tanto de informação que existe no mundo, em qualquer área, em qualquer época da história, que se percebe que não há como saber tudo de tudo.
O que eu não gosto, o que eu não suporto, é aquela ignorância estúpida; aquela que provém da preguiça, da falta de vontade, do preconceito. É aquele tipo de ignorância arrogante, que acha que não há mais nada a saber sobre determinado assunto.
Por exemplo: Einstein.

É consenso geral que Einstein foi um gênio, isto pelo fato de ser ele o autor da Teoria da Relatividade - o que, na verdade, ele não é.
O conceito de Relatividade já existia em 1905, data que ele publicou o artigo. Na realidade, desde fins do séc XIX existia este conceito no meio acadêmico e científico. Einstein apenas "subiu nos ombros de gigantes" e deu uma de espertinho: foi lá, reuniu dados, finalizou, publicou o artigo, e BANG! ficou famoso. Por este feito ele deve ter o "apelido" de malandrão, não de gênio.
Mas ele foi brilhante em outras coisas, sim; o Efeito Fotoelétrico foi algo novo na época, mérito seu - e devemos lembrar que foi por isto que ganhou o Nobel em 1921. Ele tem seu mérito? Claro! Mas deixe claro o porquê deste mérito.

Outro gênio que eu posso citar aqui é Leonardo da Vinci. Ele foi um grande pintor, é verdade, mas eu não gosto quando apenas o conhecem pela Mona Lisa ou pela A Última Ceia.
Ele se destacou muito na pintura, é verdade; mas foi ainda um excelente anatomista, um brilhante engenheiro (projetou máquinas voadoras em pleno séc XV!!!), físico, botânico; n coisas. Não é à toa que ele é chamado de um homem à frente de seu tempo. Ele foi tudo isso, e só lembram dele por causa daquele livrinho polêmico que esteve no auge alguns anos atrás.
E isto tudo por comodidade; por aceitar tudo o que nos é enfiado garganta abaixo, agradecendo ainda por nos poupar até o trabalho de mastigar.

Eu mesma, por exemplo. Uma ignorante. Outro dia mesmo, estava lendo uma poesia parnasiana e adorei (tem um post antigo sobre isto) sem saber que era parnasiana; porque eu não ia muito com a cara do parnasianismo, e por isso nem quis me aprofundar mais no assunto. Puro preconceito. Ele veio e se instalou em mim, e eu, descuidada, deixei-o ficar.
(Mas tudo bem, já mandei a cartinha de despejo para ele.)
:)

terça-feira, 15 de julho de 2008

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Palavras, apenas, palavras, pequenas...

Uma coisa que eu adoro fazer é pegar um dicionário e começar a procurar palavras aleatórias; abrir o dicionário e ver qual palavra chama a minha atenção primeiro.
Ano passado eu fiz isso; abri em uma página e esta foi a primeira palavra que li:

Dipsomania: vontade mórbida e incontrolável ao consumo exagerado de bebida alcoolica.

O engraçado é que justo neste dia eu já tinha bebido umas caipirinhas... hehehe
Parece até que foi uma mensagem!!! ;P

Mas, enfim, eu acho mais interessante procurar pela definição de coisas que são de difícil definição. Por exemplo, as cores.
Como você define as cores?
Como dizer em palavras o que é o amarelo? E o azul, o vermelho?

Amarelo: da cor do ouro, da gema do ovo ou do açafrão;...

Azul: da cor do céu sem nuvens, cerúleo;...

Vermelho: que tem a cor do sangue, encarnado vivo; rubro, escarlate;...

Preto: diz-se do corpo que, absorvendo os raios luminosos, apresenta a cor mais escura;...

Branco: que tem a cor de neve ou de leite; pálido;...

E como é definida a cor?

Cor: impressão que as diferentes variedades de luz (diferentes comprimentos de onda de radiação electromagnética visível) produzem nos órgãos visuais;...

Tá, tudo bem, eu sei que isto é uma diversão um tanto quanto esquisita, mas ela é feita por e para gente esquisita, mesmo...

Prosseguindo; eu entrei na faculdade em 2005, e exatamente quando eu era caloura tinha um professor calouro também. A nossa turma era a primeira dele na faculdade, e ele ensinava para nós Fisica Básica I. Eu nunca esqueço da minha primeira aula desta matéria; ele começou conversando com a gente - o que eu vim a descobrir depois que isto é uma raridade no curso - e queria falar um pouco sobre a física em si. E falou para a gente pensar: Tempo, o que é o tempo? Como nós podemos definir o tempo? E espaço?
Eu lembro que eu fiquei viajando naquele dia.

Tempo: duração limitada, por oposição à ideia de eternidade; período; época; sucessão de anos, dias, horas, momentos, que envolve, para o homem, a noção de presente, passado e futuro; meio indefinido onde se desenrolam, irreversivelmente, as existências na sua mutação, os acontecimentos e os fenómenos na sua sucessão; certo período determinado em que decorre um facto ou vive uma personagem; duração;...

Espaço: extensão indefinida;... (esta é a melhor de todas!)

Tem muitas coisas interessantes para procurar em um dicionário.
Qualquer dia eu posto mais.


Fim. (termo; limite; remate; alvo, finalidade; intenção; morte.)
Café Pingado - Jacques Prévert


É terrível
O barulhinho de ovo quebrado contra o balcão de zinco
terrível esse barulho
quando ele se agita na memória do homem faminto
terrível também a cabeça do homem
a cabeça do homem que tem fome
quando se vê às seis da manhã
no espelho da grande loja
uma cabeça cor de poeira
mas não é a sua cabeça que ele vê
na vitrine da casa Fauchon
pouco lhe importa essa sua cabeça de homem
não pensa nela
sonha
imagina uma outra cabeça
cabeça de vitela por exemplo
com molho de vinagre
ou cabeça de qualquer coisa que se coma
e mexe lentamente o maxilar
lentamente
e trinca os dentes lentamente
pois o mundo se diverte à custa da sua cabeça
e ele nada pode contra o mundo
e conta com os dedos, um, dois, três
um, dois, três
três dias que não come
e já está cansado de repetir por três dias
As coisas não podem continuar assim
mas continuam
três dias
três noites
sem comer
e por detrás do vidro
patês garrafas conservas
peixes mortos protegidos pelas latas
latas protegidos pelo vidro
vidro protegidos pelos tiras
tiras protegidos pelo medo
quantas barricadas por seis sardinhas infelizes...
Mais adiante o bar e o restaurante
café com leite e pãezinhos quentes
o homem titubeia
e lá dentro de sua cabeça
um nevoeiro de palavras
um nevoeiro de palavras
sardinhas para comer
ovo cozido café com leite
café pingado rum
café com leite
café com leite
café com crime pingado sangue!...
Um homem muito estimado no bairro
cortaram a garganta dele em pleno dia
o assasino o vagabundo lhe roubou
dois francos
ou seja um café pingado
zero franco setenta centavos
dois pãezinhos com manteiga
e vinte e cinco centavos de troco a gorjeta do garçom
É terrível
o barulinho do ovo cozido contra o balcão de zinco
terrível esse barulho
quando se agita na memória do homem faminto.

...

;(

Eu quero!!!

http://noticias.terra.com.br/popular/interna/0,,OI1720887-EI1141,00.html

Como é possível???

domingo, 13 de julho de 2008

... e viva o Rock and Roll!!!

Hoje é o dia internacional do Rock and Roll!!!
Êêêêêêêê!!!!
Mas eu não quero falar sobre isso agora.


B/

Quero falar sobre algo que todo mundo odeia falar; algo que todo mundo prefere fingir que não existe.



.

O Bicho - Manuel Bandeira
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
.
Língua dos cachorros - Extromodos
Eu falo a lingua dos cachorros
e eles não contam pra ninguém
Eu lato, bato, cato, mordo
e eles não contam pra ninguém
Outro dia eu saí pra passear
- Hey, seu moço, tudo anda muito mal
Como tudo que puder eu encontrar
Durmo embaixo de um pedaço de jornal
A rua embaixo tá fazendo muito frio
Aí em cima deve ser bem mais legal
Eu falo a lingua dos cachorros
e eles não contam pra ninguém
Eu lato, bato, um gato mordo
e eles não contam pra ninguém
Eu queria ter um braço como o seu
Eu só queria ter a chance de ir pro céu
Andar de carro toda hora que quiser
Fazer amigos, conhecer papai noel
Todo cachorro é dono de tanto segredo
Alfredo quer só ter os olhos como os seus
Sou um cachorro e a todo homem meto medo
Você devia ser tão dócil quanto eu
Eu falo a língua
Eu falo o que quiser também
Eu falo a língua
Eu falo o que quiser também
.
.


Uma amiga minha muito amada me falou uma vez que eu era diferente. Eu perguntei porque ela estava dizendo aquilo. Ela então me falou que era porque eu não fingia fechar os olhos. Porque eu percebia, e assumia, que a pobreza existe, que o preconceito existe, que a dor existe. Porque, diferentemente da maioria das outras pessoas, eu não sou indiferente às diferenças; porque uma parte do meu coração seca quando vejo uma criança pedindo dinheiro, ou alguém dormindo na rua, ou qualquer outra coisa que seja real. E ela falou que isto era importante; que isto fazia diferença.

Mentira.
Besteira.
Isso não diferença porra nenhuma.

O mundo continua como está; a vida continua sempre a mesma merda injusta.
E eu não sei o que eu posso fazer para modificá-lo, para torná-lo melhor. Sequer sei se isto é possível, se é compatível com o gênero humano.
Se o mundo é o que é, se a sociedade é o que é, é porque ela reflete o Homem. É um sistema caótico; o todo é apenas uma reprodução das pequenas partes. Você pode pegar uma fração deste todo, comparar com outra fração, e verá que sim, elas são diferentes. Mas se você pegar várias e várias frações, verá que cada uma é parte E representa o todo. São todas diferentes e iguais, ao mesmo tempo. A nossa sociedade é o que nós somos.

E isto fere a mim.
Faz a minha esperança desfalecer ao tic-tac do relógio.
Esperança de que possa haver uma justiça dor e felicidade, intrínseca em tudo. Que a dor das pessoas seja diretamente proporcional à felicidade que virá - porque só neste caso haverá justiça para o homem, se é que ela existe.

victoria semper causa laetitiae est

SOBRE AQUILO QUE AO JOVEM É NECESSÁRIO

O mundo contemporâneo é uma unidade globalizada, na qual todas as pessoas estão interligadas por uma teia de comunicação, e a informação viaja milhares de quilômetros em menos tempo do que um piscar de olhos. Logo, para um novo indivíduo conseguir entrar realmente nesta sociedade, ele tem que começar a se preparar cada vez mais cedo.
Antigamente, cada indivíduo era responsável por apenas um elo em sua comunidade, que se limitava a pequenas províncias e cidades. Não era necessário, por exemplo, que um sapateiro soubesse mais do que a sua profissão exigia, princialmente porque havia pouca oferta deste profissional - assim como havia pouca oferta de qualquer profissional especializado.
Com o avanço da tecnologia, poucas máquinas começaram a fazer o trabalho de muitos homens, e estes homens precisavam de uma nova forma de trabalho. Depois de um tempo, havia mais oferta de profissionais especializados do que necessitava a sociedade. Assim, conquistavam espaço apenas os melhores, uma forma de darwinismo levado à escala social.
Logo, para alguém entrar e conseguir se manter na sociedade de hoje, vivendo de acordo com seus padrões e conceitos, é necessário se especializar cada vez mais - e em todos os aspectos. Para não ser um "excluído", é preciso aprender desde cedo a se comunicar com o mundo; a conhecer o homem, seus pensamentos, sua obra e sua história; aprender cedo a fazer algo com que a sociedade evolua, tendo ainda a consciência de que o fator humano é insubstituível.
Desta forma, cada vez mais cedo cai sobre os jovens a responsabilidade pelo seu aperfeiçoamento; e na luta contra seus adversários - os irmãos de sua geração - destacar-se-ão os mais compatíveis com a sociedade de amanhã.


...

Este texto eu fiz no colégio, para o projeto Entrelinhas, e ele acabou sendo publicado no jornal do projeto. Claro que o professor Douglas, que é o responsável pelo projeto, corrigiu antes e modificou algumas partes; esta é a versão que foi publicada.

(Proposta: A cidade contemporânea tem sobrecarregado o jovem ou este cotidiano "superocupado" é tão somente uma característica deste nosso maravilhoso mundo da informação?)

:)

sábado, 12 de julho de 2008

Tudo passa...

... tudo passará ...


Existe, no CAHK (Centro Acadêmico Hugo Kremer: é o centro acadêmico dos estudantes do curso de Física da Universidade Federal do Paraná, do qual eu costumava ser diretora, mas isto é passado), CA para os íntimos (leia-se cê-á, e não ), dois discos do Pink Floyd. Antes do CA eu nunca tinha ouvido o som de um vinil, e nem Pink Floyd.
Um dos discos existentes é o THE FINAL CUT, e eu imaginava que o nome do outro disco do Pink Floyd - o que eu mais gostava, que mais ouvia, e que para mim é símbolo do CA -, era HARVEST - que, na realidade, é o nome da gravadora do disco (ok, em minha defesa eu devo dizer que eu não conhecia ABSOLUTAMENTE NADA a respeito de vinis... e HARVEST estava muito maior do que o nome do vinil mesmo, logo era lógico eu pensar isto...); enfim, como eu saí do curso e do CA, as músicas que eu ouvia ficaram na lembrança, e eu as queria resgatar. Eu procurei desesperadamente aquelas músicas que eu amava e que significavam muito para mim, mas eu não as encontrava (não é necessário explicar o porquê =/ ).
Em meu coração ficou um vazio enorme; eu não conseguia encontrar o que me foi perdido...
...
Mas hoje, em um momento de inspiração, a solução veio em minha cabeça, e eu fiquei com vontade de levá-la ao encontro - várias vezes e em grande velocidade - à parede mais próxima, de tão simples que era: buscar na discografia deles o nome do albúm, que eu havia de puxar pela memória e reconhecer.
Ok.
...
Eu encontrei.
E assim que tocou a primeira nota, caiu a primeira lágrima.
...
Ah! A propósito, o nome do disco é MEDDLE.
...


Onze e meia da noite de um sábado, eu estou em casa, sóbria, na internet. Remoendo lágrimas, amargurando lembranças.
Lembranças de uma existência que já se foi; uma realidade que não mais voltará. Momentos que eu passei em uma sala de mais ou menos 25 metros quadrados, de paredes verdes, teto xadrez de onde saía um cone ("the pet cemitery!"), tomando bera em latas azuis de Antártica, jogando as vazias no carrinho do mercado... E ouvindo Pink Floyd.
Às vezes jogando pebolim, às vezes jogando truco, às vezes conversando, às vezes rindo, às vezes apenas estando lá, em silêncio...
Sempre as mesmas pessoas - Rose (cara, como Pink Floyd me lembra da Rose! ), Chinês, Ju, Zé, Manu, Fer; um ou outro calouro aleatório; um ou outro veterano, que variava, mas sempre tinha um ou outro das antigas lá... -; sempre as mesmas piadas ( Quem...? Perguntou!! Ah!!! ); sempre as mesmas músicas; sempre a mesma felicidade de estar ali; sempre, sempre o mesmo...
Até o momento que eu resolvi deixar esta imagem apenas na saudade...
Sim, eu sei que não duraria para sempre, que um dia esta imagem seria apenas uma lembrança...

Mas mesmo assim...

Juno

Acabei de assistir a Juno, um filme que concorreu ao oscar de melhor filme ano passado (e que perdeu para Onde os Fracos Não Tem Vez, excelente também!)... Muito legal! Totalmente fora do lugar comum. Recomendo!

Eu não vou especular muito sobre ele aqui não, estou com preguiça... Mas assistam, ok?!?!?

Aí embaixo está a letra de uma música do filme, muito bonitinha... :)

Anyone Else But You - Michael Cera & Ellen Page

You're a part time lover and a full time friend
The monkey on your back is the latest trend
I don't see what anyone can see, in anyone else
But you


Here is the church and here is the steeple
We sure are cute for two ugly people
I don't see what anyone can see, in anyone else
But you


We both have shiny happy fits of rage
I want more fans, you want more stage
I don't see what anyone can see, in anyone else
But you


You are always trying to keep it real
I'm in love with how you feel
I don't see what anyone can see, in anyone else
But you


I kiss you on the brain in the shadow of a train
I kiss you all starry eyed, my body's swinging from
side to side
I don't see what anyone can see, in anyone else
But you


The pebbles forgive me, the trees forgive me
So why can't, you forgive me?
I don't see what anyone can see, in anyone else
But you


Du dududu dududu du dududu
Du dududu dududu du dududu
I don't see what anyone can see, in anyone else
But you

sexta-feira, 11 de julho de 2008

La Donna, mais uma vez.


Uma imitação é sempre uma imitação?

E, por ser ela uma imitação, não devemos lhe atribuir valor algum?


Eu estava pensando nisto mais cedo, quando eu estava escrevendo o post da Mona Lisa. Eu fiquei pensando: bom, eu nunca vi a Mona Lisa. Nunca fui ao Louvre e encarei seu misterioso sorriso deixando que ela, também, encarasse o meu ao mesmo tempo.

O que eu vi foi um retrato dela; uma imitação de como ela é, de sua realidade. Mas, mesmo vendo apenas uma imitação, eu consigo ter um parecer sobre ela considerando o que eu sinto ao vê-la e os meus parcos conhecimentos sobre arte.

Pois é. E então, como fica esta pergunta?

A imitação tem algum valor ou não?

Como eu sou uma ex-quase-física, e como eu A-MO Física, e, ainda, como eu adoro elevar conceitos físicos a uma escala social e humana, eu digo que isto é relativo.

A imitação só tem o valor que nós impomos a ela. Ela é como a arte.

Por exemplo, a imagem que está acima do post. Esta é a minha releitura a grafite da Mona Lisa. Eu acabei de fazer, para poder ilustrar melhor meu pensamento.

É uma cópia. Sim, eu tentei copiar La Gioconda. É claro que ficou diferente; lembra la donna, mas não é igual. Eu demorei cerca de 20 minutos para fazê-la, e aí está.

Mas, ela tem algum valor?


Para mim, sim. Tem, porque fui eu quem a fez. Tem, porque eu tinha um propósito ao fazê-la. Tem, porque eu coloquei a minha técnica (sem comentários, por favor... ;P ) e meus sentimentos nela... Ela para mim é uma cópia, mas é Arte. A mim ela vale - e vale muito; valeram-me 20 minutos da minha vida, e uma carga inteira de emoções.

Mas ela só vale por isto; porque eu determinei que ela vale; eu a fiz parte de mim. Ela não é só mais uma imitação; ela me é singular, ela me é cara. Ela é uma cópia única.

Eu peguei a Mona Lisa e a coloquei em um rio, e ela e o rio sairam diferente. La Donna nunca mais será a mesma; não em meu mundo; não em mim. Porque ela mudou o rio que é a minha vida, e este rio a modificou também.
...
ps: Sem risadas para com a minha obra de arte, ok?
:)
Fake Plastic Trees - Radiohead

Her green plastic watering can
For her fake Chinese rubber plant
In the fake plastic earth
That she bought from a rubber man
In a town full of rubber plans
To get rid of itself

It wears her out, it wears her out
It wears her out, it wears her out

She lives with a broken man
A cracked polystyrene man
Who just crumbles and burns
He used to do surgery
For girls in the eighties
But gravity always wins

It wears him out, it wears him out
It wears him out, it wears him out

She looks like the real thing
She tastes like the real thing
My fake plastic love
But I can't help the feeling
I could blow through the ceiling
If I just turn and run

It wears me out, it wears me out
It wears me out, it wears me out

If I could be who you wanted
If I could be who you wanted all the time
All the time...
All the time...




...

La Gioconda

Mona Lisa.
Ah, Mona Lisa.
O que eu sinto quando eu vejo a Mona Lisa?

(Tá, tudo bem, eu não sou nenhuma especialista em arte, vá lá. Mas, em minha defesa, eu uso aquele argumento que todo mundo usa - eu poderia encontrar outro mais interessante, mais plausível; mas vou usar este como forma de confundir a minha cabeça mesmo... -, que a maioria das pessoas não é especialista em (desculpe o termo, mãe) porra nenhuma, mas mesmo assim fica metendo o bedelho onde não lhe é devido - tipo como quando alguém fica julgando um fato que aconteceu, como, por exemplo, uma certa Ismália, que tinha cinco anos na época, e quis voar do sexto andar. Ninguém tem conhecimento nenhum de causa; ninguém sabe o que aconteceu realmente; ninguém sabe o que levou isto a acontecer. Se alguém quer julgar outrém, faça do jeito certo, sim? Faça um vestibular, passe, estude, forme-se em direito, especialize-se, faça concurso público para juíz, passe, exerça, pegue este caso, aprofunde-se, e só então dê o seu veredicto; só então julgue o que achar correto. Só um último apelo: não condene as pessoas sem provas, e não acredite em provas que a mídia te dá, em coisas que a mídia te fala; aliás, não acredite em nada o que te falam, nem em mim; mas, por favor, não seja mais um fantochezinho ordinário.)

Logo, meterei aqui o meu bedelho sobre La Gioconda.

É uma obra de arte e tanto, esta de Leonardo Da Vinci - acho que é a obra de arte mais conhecida do planeta. Sua beleza está na na sua técnica de pintura, o sfumato, que permite uma perfeita retratação de luz e sombra. Está também nas proporções de la donna, no chamado número de ouro; será que uma razão matemática pode nos trazer o belo?
E a beleza também está, é claro, em seu sorriso, misterioso e impassível. Será que ela esconde, atrás deste sorriso, um segredo triste? Ou ela o usa de guardião para uma suprema felicidade? Ou, ainda, será que ela resguarda nele toda uma ironia, a respeito da vida, do tempo e da fugacidade do Homem?

Ah, La Gioconda. Tão conhecida, tão eterna, sempre sendo julgada, analisada, desmentida...
Coitada.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

(Pensamento roubado de um profile do orkut)

Não trate com prioridade quem te trata como opção.
Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...




João e Maria

Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava o rock para as matinês

Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz
E você era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país

Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido
Vem, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido

Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?




O primeiro texto é um poema que foi escrito em meados do fim do séc XIX e início do séc XX, por Alphonsus de Guimaraens, um poeta simbolista brasileiro. Já o segundo é a letra de uma música escrita em 1977 de Chico Buarque de Hollanda, um grande cantor e compositor, também brasileiro, e que eu admiro.
Eu coloquei ambos aí encima porque as duas poesias (pois eu considero esta canção uma poesia) são singulares para mim; são singelas, delicadas; nos evoca o inocente, o puro, a ausência do real e da maldade. É impossível não sentir-se criança ao ouvir João e Maria; não esboçar um sorriso ao imaginar um lugar onde se é obrigado a ser feliz, um lugar onde os sonhos acontecem e a gente é sempre herói - ou mocinha, eperando ser salva.
Assim como é impossível não simpatizar com Ismália, e junto a ela querer ganhar asas, e voar em direção a seus sonhos.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Fragmentos de Werther

“Ela me é sagrada. Todo desejo emudece em sua presença. Não sei o que sinto quando estou junto dela; é como se toda a minha alma estivesse subvertida...”


“Pobre homem insensato, que julgas todas as coisas pequenas, por que és, também, tão pequeno?”



“A coisa mais certa deste mundo é que o afeto, somente, torna o homem necessário.”


“Podes tu afirmar: ‘ isto existe! ’, quando tudo passa, rola e desaparece como um clarão; quando raramente a existência de um ser se prolonga até o esgotamento total de suas forças; quando, ai de mim, absorvido pela corrente, esse mesmo ser vai quebrar-se contra os rochedos? Não há um momento que não devore a ti e aos teus; não há um só instante em que tu não destruas, não sejas forçado a destruir. O teu passeio mais inocente custa a vida de centenas de pobres vermezinhos. Com uma passada, tu deitas abaixo os edifícios penosamente erigidos pelas formigas, e fechas de modo ignominioso a tumba sobre todo um pequeno universo... Ah! As grandes e raras calamidades deste mundo, as inundações que arrasam as nossas aldeias, os tremores de terra que engolem as nossas cidades, nada disso me comove; o que me dilacera o coração é esta força destruidora oculta em toda a natureza, esta força que nada cria senão para destruir-se e destruir o que cerca ao mesmo tempo. Assim prossigo eu, vacilante e o coração opresso, entre o céu e a terra com as suas forças sempre ativas, e nada mais vejo senão um monstro que devora eternamente todas as coisas, fazendo-as depois reaparecer, para de novo devora-las.”

segunda-feira, 7 de julho de 2008

O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem. (Lya Luft)


Eu estava fuçando em uns blogs alheios e vi esta citação da Lya Luft.
Bom, nem preciso dizer que gostei né (Eu gostei!), e isto me lembrou um livro que eu li dela - aliás, o único livro que eu já li dela: A Asa Esquerda do Anjo.
Eu o li há muitos anos atrás, eu estava no terceiro ano, mas ele me marcou bastante... Adorei-o, foi um dos livros que eu mais gostei de ler.
Ela mostra uma incrível sensibilidade ao tratar de uma personagem que não sabe sequer se ela é Gisela ou Guisela; uma personagem que não consegue se sentir uma, um único ser; uma personagem que não se sente digna do dom da vida.
Ela delicadamente fala de um conflito que as pessoas costumam ter em alguma parte da vida: não saber se ela é quem ela acha que é, ou se ela é quem as pessoas acham que ela é; ou ainda se ela não é nenhuma dessas duas, e sim uma mistura híbrida de tudo aquilo (e aqueles) que ela ama com o que ela odeia... E por não saber nada disto, também não consegue saber quem quer ser, não é capaz de definir seus sentimentos em relação ao mundo, às pessoas e a si mesma, e não pode imaginar um futuro. Ela se encontra à beira da tênue linha que separa o concreto do imaginário, o real do ilusório, a vida da morte.

Resumindo: é um romance bem psicológico de uma garota perdida em sua própria existência.

(Belíssimo.)

sábado, 5 de julho de 2008

"Até as flores tem seu dia de sorte,
Umas enfeitam a vida e outras a morte."

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Kundera, mais uma vez

"Era uma vez (E é ainda) certo país (E é ainda)
Onde os animais Eram tratados como bestas (São ainda, são ainda)"

Bicharada (Os Saltimbancos) - Chico Buarque


Que dia lindo!!!
Encontrei O Livro do Riso e do Esquecimento por R$10 em um sebo!!!

Um fragmento deste livro belíssimo:
(Situando antes a historia: tem uma personagem, Tamina, que vai parar em uma ilha onde só vivem crianças; lembrei na hora de O Senhor das Moscas, com a diferença de que nesta ilha todas elas vivem em harmonia. Acontece que Tamina não é criança; é uma mulher.
Logo, há um sentimento de rejeição por parte destas, e elas começam a maltratar Tamina.)


"Porque essas crianças são más?
Ora, elas não são más de modo algum. Ao contrário, têm bom coração e não param de dar umas às outras provas de amizade. Nenhuma delas quer Tamina só para si. Ouve-se a todo instante seus
olhe, olhe. Tamina está presa nas redes emaranhadas, as cordas lhe esfolam a pele, e as crianças mostram umas às outras o sangue dela, suas lágrimas e suas caretas de dor. Elas a oferecem generosamente umas às outras. Ela se tornou o cimento da fraternidade delas.
Sua infelicidade não deriva do fato de que as crianças sejam más, mas de ela encontrar-se além da fronteira do mundo delas. O homem não se revolta porque se matam bezerros nos abatedouros. O bezerro está fora da lei para o homem, assim como Tamina está fora da lei para as crianças.
Se há alguém que está cheio de uma raiva amarga, é Tamina, e não as crianças. O desejo que elas sentem de fazer o mal é um desejo positivo e alegre, e pode-se com razão chamá-lo de alegria. Se elas desejam maltratar aquele que se encontra além da fronteira do mundo delas, é unicamente para exaltar seu próprio mundo e sua lei."

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Acabei de ler Risíveis Amores.

(Sinto um vazio tão grande quando termino de ler um livro...)

(Ouvindo Legião Urbana, que eu simplesmente A-MO!!!)

Belo dia este presente.

...

Sobre o tempo (mais uma vez)

PASSANDO DOS CINQÜENTA

Meu pescoço se enruga.
Imagino que seja
de mover a cabeça
para observar a vida.
E se enrugam as mãos
cansadas dos seus gestos.
E as pálpebras
apertadas no sol.
Só da boca não sei
o sentido das rugas
se dos sorrisos tantos
ou de trancar os dentes
sobre caladas coisas.

Marina Colassanti


...


(Acho que estou me sentindo velha ultimamente...)

quarta-feira, 2 de julho de 2008

O inimaginável

Eternizando uma outra passagem de Risíveis Amores:


"Era uma situação que jamais se repetira em sua vida: ele se viu confrontado com o inimaginável. Estava certamente naquele período muito curto da vida (o período paradisíaco) em que a imaginação ainda não está saturada pela experiência, não está estragada pela rotina, em que se conhecem ou se sabem poucas coisas, de modo que o inimaginável vai se tornando realidade (sem a intervenção do imaginável, sem a passarela das imagens), somos todos tomados pelo pânico e pela vertigem."

Eu não consigo imaginar, hoje, algo inimaginável; mas isto é óbvio, porque uma vez que eu não consigo imaginá-lo, eu acho que ele não é imaginável, porque eu nem imagino que seja possível não imaginá-lo (acho que isto não faz muito sentido =/ ); é preciso se deparar com algo assim... Mas nunca isto me aconteceu.

Imagine um elefante voador rosa! Imaginou, não é?!?!?!
Agora imagine este elefante sendo engolido por uma cobra!! (parece um chapéu... ;D ) Eu posso imaginar isto...
Imagine então esta cobra vivendo em uma sociedade onde não existem famílias; as cobrinhas são todas produzidas in vitro; são divididas em castas Fi, Chi, Psi e Ômega e o sexo entre as cobrinhas é totalmente liberado. EU TAMBÉM CONSIGO IMAGINAR ISTO!!!
...

Pois é. Eu nunca me deparei com algo que, mais cedo ou mais tarde, eu não pudesse imaginar.

(Mas eu quero sentir este pânico! Eu quero sentir esta vertigem! Eu preciso acreditar que a minha imaginação não esteja saturada pela rotina!!!)

"As cores cruelmente berrantes tornam a vida tão tristemente incolor..."

O título deste post é uma adaptação de uma frase de Risíveis Amores, que eu estou me demorando para terminar, saboreando ao máximo sua magnífica singularidade...

Mais um trecho que eu gostaria de eternizar:


"Ao contrário de nós, os personagens dos romances, das lendas ou das histórias engraçadas são feitos de uma matéria que não está sujeita ao desgaste da idade. Não, não quero dizer com isso que as lendas e as histórias engraçadas são imortais; é claro que elas também envelhecem, e seus personagens envelhecem com elas; só que envelhecem de maneira tal que seus traços não se modificam nem se adulteram, mas esmaecem, se apagam lentamente e acabam por se confundir com a transparência do espaço. É assim que vão desparecer Pépé le Moko, e Havel, o Colecionador; mas também Moisés e Palas Atena ou São Francisco de Assis; e imagine que os traços de São Francisco vão esmaecer lentamente, e com eles os passarinhos que estão pousados em seu ombro, o pavão que se esfrega em sua perna e o bosque de oliveiras que lhe empresta sua sombra; imagine que toda a sua paisagem vai lentamente se apagar com ele e se fundir com ele num azul consolador, enquanto eu, meu caro, tal como sou, nu, arrancado da lenda, vou desaparecer no pano de fundo de uma paisagem de cores implacavelmente berrantes e sob os olhos de uma juventude sarcasticamente viva."

terça-feira, 1 de julho de 2008

Litost

Acabei de ler um texto no blog do meu professor de história (http://profche.blogspot.com/), "Um parecer sobre o fim do mundo".

Faz tempo que eu não me perguntava sobre isso; a origem do Universo e seu destino... A relevância do Homo Sapiens na história desta singularidade que é nada mais do que um enorme, imenso, gigantesco, SuperHiperUltraMegaPower espaço vazio que possui aleatoriamente um ou outro conglomerado de coisas que, submetidas à uma força externa, adquire aceleração, e por isto as chamamos de Matéria.
(Nossa, cada vez que eu penso nisto eu me sinto mais e mais infeliz; é triste quando a gente se dá conta da nossa insignificância, da nossa pequenez; de quão ridículo nós somos quando comparados ao Tempo e ao Espaço - acho que é por isto que existe a Arte; a Arte é a fuga desta realidade vil, desse Litost).
Mas foi estas questões que me fizeram escolher fazer Física quando eu estava no terceiro ano; eu queria entender tudo isto; achava que poderia responder a algumas das minhas questões...

Enfim acabei descobrindo que eu nunca conseguirei respostas para as minhas perguntas; estas lacunas vão continuar em branco em minh´alma. Quanto mais a vontade de encontrar respostas fica insuportável, mais aumentam as minhas interrogações; e toda vez que em mim aumenta a certeza da minha própria ignorância, um pedaço dentro de mim morre. E hoje, pensando bem, acho que este foi um dos motivos pelo qual eu resolvi desistir da faculdade e vir para Foz do Iguaçu.

É...

Eu pensei que estaria livre destas dúvidas por um tempo, mas não adianta fugir de si mesmo.

Papai Noel existe?

Ontem eu estava vendo umas comunidades do meu Orkut com o Matheus, e um tópico de uma comu chamou a nossa atenção: Provando (logicamente) que Papai Noel existe!

http://janosbiro.blogspot.com/2008/06/provando-logicamenete-que-deus-existe.html

E mais embaixo tem um outro link: Provas de que Papai Noel não existe.

http://www.calp.unifesp.br/biossintetase/noticias/nov2005/provas.html

Eu achei ambos muito interessantes!!!
O primeiro texto é singelo e ingênuo, como deve ser o texto que tente provar logicamente que existe no mundo algo como Papai Noel, Mágica ou Amor.
Já o segundo é legal porque coloca esta questão como uma equação física, com cálculos bem resumidos, é claro (imagine fazer estes cálculos considerando todas as variáveis possíveis!), e com uma conclusão deveras Nietzscheana - "Papai Noel está morto!".
;)