sexta-feira, 27 de junho de 2008

Santa Briony

São 23:14, acabei de assistir ao filme Desejo e Reparação.
Em geral eu não costumo pegar romance ou drama quando eu vou à uma locadora; eu gosto mais dos filmes de ação, terror e suspense. Drama, só quando foi recomendado por alguém ou a história não me parece ser tão melosa; comédia ou comédia-romântica NUNCA!, a não ser que eu esteja acompanhada da minha mãe, irmã, madrasta, etc. Mas hoje eu estou tão down, eu "Ando tão à flor da pele, Qualquer beijo de novela me faz chorar", que resolvi pegar este filme... (não, não chorei - mas foi por pouco) Mas o filme é muito bom, longe de ser daqueles que não tem significado nenhum, que só servem para a gente não pensar em nada.
Sobre a história em si eu não vou falar, qualquer um pode ir no google e procurar a sinopse - e ASSISTA, eu recomendo (tá, pode ser que a minha opnião não valha nada, mas mesmo assim assista). Eu queria só ressaltar a sensibilidade do filme, como cada detalhe da alma dos personagens é exposto, de uma maneira delicada e bela. Não há outra palavra para qualificá-lo; ele é isso, simplismente belo.
A sequência na qual a Briony acaba descobrindo o romance da Cecília e do Robbie, o modo o qual ela fala o nome da sua irmã na biblioteca, e toda a decepção de uma garota de 13 anos e com um universo interior infinito é sublime! E depois, toda a constatação do erro, a vontade vã de reparar o que já foi... O peso sobre si de ter mudado o rumo da história de pessoas que ela amava, condenado suas vidas... Que cena era aquela, Meu Deus!, em que a Briony está com o soldado doente falando em francês! Ou a do casamento!! Bah, eu não vou ficar aqui falando deste filme, ASSISTA!
Mas o contexto é muito mais profundo... Ele nos remete à nossa vida, à nossa história. Uma paixão de adolescente, uma cena que não deveria ter sido vista, uma correspondência violada, umas mentiras inocentes... Tinha a Cecília o direito de culpar a Briony pelo o que aconteceu (se bem que ela não a culpou realmente), ou a Briony penitenciou a sua vida por algo o qual ela era inocente?
Em sua defesa pode-se dizer que ela só tinha treze anos, e não tinha capacidade para entender as consequências dos seus atos. Ela foi levada a acreditar, devido ao acontecido na fonte, à carta e a cena da biblioteca, que Robbie era o culpado... Ela não sabia o que fazia...
Mas pode-se também dizer que ela o acusou por raiva, porque ela tinha uma paixão adolescente por ele e descobriu que ele amava a sua irmã e, assim sendo, sabia sim o que fazia, e deve ser penalisada.
E então? O que ela é para você, inocente ou culpada??
Não, a sua opnião não vai mudar esta história... Mas ela pode mostrar quem você é.

A Respeito da Casualidade

Da Fatalidade Histórica



A bolinha que saiu na loteria

Não saiu porque deveria sair precisamente ela

Mas sim porque uma delas teria de sair,

Não podia deixar de sair!

Moral da História:

Uma coisa - só por ter acontecido -

Não quer dizer que seja lá essas coisas...



(Mário Quintana)







Coisa engraçada esta não... E insana, também.
As coisas não têm razão. A vida, se você pensar bem, não têm razão. O Universo existe e pronto, não porque deveria existir, mas porque aconteceu de ele existir. Se não tivesse acontecido, também não teria razão para não ter acontecido, apenas não teria acontecido e pronto.
É o homem, no final, que complica tudo; é ele quem inventa a necessidade de tudo ter que ter sempre razão. Mas isto é justificável, porque afinal nós queremos crer que estamos aqui por um determinado fim; nós somos uma interessante mistura de sentimento e razão, que faz com que não aceitamos o simples fato de estarmos aqui por mero acaso, simples "superioridade evolutiva", se é que este é o termo mais correto.
Nós amamos nossos pais e nossos filhos simplismente porque aconteceu de nós sermos seus filhos e seus pais; se fossem outras pessoas que não nós filhos de nossos pais ou pais de nossos filhos, eles os amariam também, pelo simples fato de serem estas outras pessoas seus filhos e seus pais, e jamais pensariam em nós e na possibilidade de amar outros filhos e outros pais.
E é a mesma coisa que os nossos amigos e nossos amores: nós os encontramos e eles nos encontraram, e essa união deu certo; mas se nós tivessemos encontrados outras pessoas para chamarmos de amigo e amor, nós os amaríamos também; talvez de outro jeito, de outra forma e intensidade, mas haveríamos de amá-los e sim, conseguiríamos viver sem aqueles que hoje nos são insubstituíveis.
E isto é triste, e é insano, e é imoral; e é tudo isto porque está contra os nossos sentimentos e contra tudo aquilo a que sempre acreditamos. Mas essa verdade (se é que existe verdades e se esta é uma delas) não muda diante de nossa ira e indignação.


'' "Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão. ''
(O guardador de Rebanhos, V - Alberto Caeiro)