segunda-feira, 13 de julho de 2009

Razão e Sentimento, de Jane Austen

“– Tenho freqüentemente incorrido nesse tipo de erro – disse Elinor – apreendendo de maneira totalmente falsa um determinado aspecto do caráter alheio: imagino as pessoas muito mais alegres ou tristes, ou inteligentes ou ignorantes, do que na verdade são; e nem posso dizer por que as pessoas dizem de si próprias, e muito freqüentemente pelo que as outras dizem delas, sem nos darmos tempo para deliberar e julgar por nós mesmos.”

“– ... e ouso dizer que é também um panorama encantador, já que você assim o considera; posso admitir que seja também cheio de rochas e promontórios, de musgo cinzento e de silvados, mas estes não têm significação para mim. Não me interesso pelo pictório.
– Receio que seja bem verdade – disse Marianne. – Mas por que você se vangloria disso?
– Desconfio – disse Elinor – que, para evitar uma espécie de afetação, Edward recai em outra. Porque pensa que muitos fingem demonstrar mais admiração pelas belezas naturais do que realmente sentem, pretensão esta que o aborrece, ele afeta maior indiferença e menos discriminação ao vê-las do que realmente tem. Acaba sendo depreciativo e tendo a sua própria afetação.
– É verdade – disse Marianne – que a admiração pelas cenas paisagísticas se transformou em lugar-comum. Todos fingem senti-las e tentam descrever com o gosto e a elegância de quem primeiro definiu o que era beleza pictórica. Detesto toda espécie de lugares-comuns, e às vezes reservo meus sentimentos só para mim mesma por não encontrar uma linguagem adequada para descrevê-los, senão aquela já gasta e destituída de todo sentimento e significado.”

“Sua natureza podia ter-se azedado com a constatação, comum a muitos de seu sexo, de que, apesar de possuir inegáveis trações de beleza, sua mulher não passava de uma idiota... mas Elinor sabia que essa espécie de erro estúpido era comum demais para atormentar permanentemente um homem sensível. Era mais o desejo de se mostrar, pensava ela, que produzia aquele tratamento altivo para com as outras pessoas e a censura a tudo quanto o rodeava: o desejo de parecer superior aos demais.”