terça-feira, 14 de julho de 2009

Fahrenheit 451, de Ray Bradbury

Mais um de ficção científica, que eu A-DO-RO!!!!

Em breve (ou seja, não sei quando) posts meus...
;)

“O que é mais natural e mais fácil de explicar? Com as escolas produzindo cada vez mais corredores, saltadores, fundistas, curiosos, torcedores, levantadores de peso e nadadores, em vez de examinadores, críticos, estudantes e criadores imaginativos, a palavra ‘intelectual’ tornou-se, é claro, o palavrão que merecia ser. Você sempre tem medo do diferente. (...) Devemos ser todos iguais. Nada desse negócio de todos nascerem livres e iguais, como diz a Constituição; o que acontece é que todos são igualados. Cada homem é a imagem do outro. Aí todos ficam felizes, pois não há montanhas para fazê-los se acovardarem, contra as quais eles tenham de medir-se.”

“Felizmente, pessoas excêntricas como ela não ocorrem com muita freqüência. Agora já sabemos como consertar quase todas na infância, bem cedo. Não se pode construir uma casa sem prego e se tábuas. Se você não quer que uma casa seja construída, esconda os pregos e as tábuas. Se não quer que uma pessoa seja politicamente infeliz, não lhe dê os dois lados de uma questão para se preocupar. Dê-lhe só um. Melhor ainda, não lhe dê nenhum. Será melhor ela esquecer que existe uma coisa como a guerra. Se o governo for ineficiente, autoritário e perdulário, é melhor ser tudo isso sem que as pessoas se preocupem com essas coisas. Paz, Montag. Dê às pessoas concursos que elas ganham lembrando-se das letras de canções mais populares, dos nomes de capitais ou de Estado que produz mais petróleo. É melhor entulha-las de dados não combustíveis, entupi-las com tantas ‘informações’ que elas se sintam enfastiadas, mas muitíssimo ‘brilhantes’. Aí elas acham que estão pensando, ficam com uma impressão de estar em movimento sem se mexer. E ficarão felizes porque os fatos dessa espécie não se modificam. Não lhes dê coisas escorregadias como filosofia ou sociologia para embrulhar as coisas. Esse é o caminho da melancolia.”

“– Meu senhor, eu não falo coisas – disse Faber. – Eu falo o significado das coisas. Sento-me aqui e sei que estou vivo.”

“Faber cheirou o livro. – Sabe que os livros têm cheiro de noz-moscada ou de alguma especiaria do estrangeiro? Eu adorava sentir o cheiro de livros quando era menino.”

“– O senhor é um romântico incurável – disse Faber. – Seria cômico se não fosse trágico. Não é dos livros que o senhor precisa, mas sim de algumas das coisas que antigamente estavam nos livros. (...) Não, não... o que o senhor está procurando não é de maneira alguma os livros! Descubra essa coisa onde puder, em velhos discos fonográficos, em filmes antigos e em amigos do passado. Procure-a na natureza e em si mesmo. Os livros eram somente um tipo de receptáculo onde guardávamos uma porção de coisas que não queríamos esquecer. Não há nada de mágico neles, absolutamente nada. A magia está apenas no que os livros dizem, em como cosiam para nós os retalhos do universo.”

“O velho balançou a cabeça, compreensivo. – Quem não constrói tem de queimar. Isso é uma coisa tão velha quanto a história ou os delinqüentes juvenis.”

“Granger se deteve ao lado de Montag, também olhando para trás. – Cada pessoa deve deixar alguma coisa atrás quando morre, era o que meu avô dizia. Um filho, um livro, um quadro, uma casa, um muro que construiu ou um par de sapatos que tenha feito. Um jardim que cultivou. Alguma coisa que sua mão tenha tocado de alguma maneira, de modo que sua alma tenha aonde ir quando você morrer. E quando as pessoas olharem para aquela árvore ou aquela flor que você plantou, você estará ali. Não importa o que você faça, ele dizia, desde que você mude alguma coisa; uma coisa era de um jeito antes de você toca-la e passa a ser parecida com você depois. A diferença entre o homem que apenas apara gramados e um jardineiro de verdade está no toque, ele dizia. O cortador de grama bem poderia nunca ter passado por ali; o jardineiro estará lá a vida toda.”