sexta-feira, 25 de julho de 2008

Personagens

Eu estava pensando: se você pudesse se definir em um personagem - de um livro, filme, enfim - qual personagem você seria?
Pois é, eu sou meio esquisita mesmo; eu fico pensando nessas coisas estranhas... hehehe
Enfim, eu fiz essa pergunta uma vez para um amigo meu; ele pensou um pouco e me falou que ele era como Dom Quixote... Um outro me disse que seria como Hari Seldon, da trilogia Fundação (Asimov - Recomendo!).
Quem seria você?
...
(E quem sou eu?
Uma mistura de Mathieu com Jaromil...)

A Imortalidade, mais uma vez

Ainda lendo A Imortalidade, encontrei um fragmento que traduz meu pensamento em relações a várias coisas, inclusive em como eu me sinto quando leio um livro - principalmente se for do Kundera. Aliás, livro indescritível este, vou aproveitar o fim de semana e postar mais fragmentos dele aqui...

“- O que você está escrevendo exatamente?
- Não é reproduzível.
- Pena.
- Porque pena? É uma sorte. Hoje em dia as pessoas vão encima de tudo que foi escrito para transformar em filme, em drama de televisão ou em desenho animado. Já que o essencial no romance é aquilo que não pode ser dito senão por um romance, em toda adaptação só fica o que não é o essencial. Quem quer que seja suficientemente louco para hoje ainda escrever romances, deve, se quiser protegê-los com segurança, escrevê-los de maneira tal que não possam ser adaptados, em outras palavras, que não possam ser contados.
Ele não era dessa opinião:
- Posso contar a você com o maior prazer
Os três mosqueteiros de Alexandre Dumas, quando você quiser, de ponta a ponta!
- Sou como você, gosto de Alexandre Dumas, disse eu. No entanto lamento que quase todos os romances escritos até hoje obedeçam demais à regra da unidade de ação. Isto é, que estejam fundamentados apenas numa seqüência causal de ações e acontecimentos. Esses romances parecem uma rua estreita, ao longo da qual os personagens são perseguidos com chicotadas. A tensão dramática é a verdadeira maldição do romance, porque transforma tudo, mesmo as mais belas páginas, mesmo as cenas e as observações mais surpreendentes, numa simples etapa que leva ao desfecho final, onde se concentra o sentido de tudo que precede. Devorado pelo fogo de sua própria tensão, o romance se consome como um monte de palha.
- Escutando você, disse timidamente o professor Avenarius, tenho medo de que seu romance seja chato.
- Deve-se então considerar chato tudo que não é uma corrida frenética para o desenlace final? Ao saborear esta coxa de pato, será que você se chateia? Você se apressa para o final? Pelo contrário, você quer que o pato entre em você o mais lentamente possível e que seu sabor se eternize. O romance não deve ser parecido com uma corrida de bicicleta, mas sim com um banquete onde se servem muitos pratos. Espero com impaciência a sexta parte. Um novo personagem vai surgir no meu romance. E no fim dessa sexta parte ele desaparece como chegou, sem deixar traço. Ele não é a causa de nada e não produz nenhum efeito. É justamente o que me agrada. Será um romance num romance, e a história erótica mais triste que já escrevi. Até você ficará triste.
Avenarius guardou um silêncio embaraçado, depois me perguntou gentilmente:
- E qual será o título do seu romance?
- A insustentável leveza do ser.
- Mas esse título já está tomado.
- Sim. Por mim! Mas na época me enganei de título. Ele deveria pertencer ao romance que estou escrevendo agora.”