domingo, 5 de dezembro de 2010

Sorte.

Madrugada de domingo para segunda.
Minha vez de limpar a casa - atrasada uma semana, claro.
(provas!!!).
Uma da manhã.
Terminei.
Só falta molhar as plantas.
E é então que eu o vejo, pela sacada do meu quarto.
Na realidade, foi o movimento que me chamou a atenção.
Ele tentava arrumar o pano que o cobria. Era algo similar a um lençol, mas um pouco mais grosso que isso.
Não adiantava: seus joelhos continuavam descobertos.
Acho que havia alguém do lado dele, e ele não queria descobrir este alguém.
Seu travesseiro, um saco de lixo.
...
Eu não sou muito de orar, não. Ou rezar, como faz o meu pai. Mas, ultimamente, eu ando orando bastante.
Como há muito tempo eu não vou à igreja, e não sou fiel a nenhuma religião, não sei qual é o jeito certo de orar. Eu oro do jeito que eu me lembro que orava quando era mórmon; bem mais uma conversa que uma oração.
E eu agradeço.
Agradeço sempre a tudo que tenho.
Agradeço por ter um teto. Agradeço por ter comida em minha mesa. Agradeço por ter um cobertor pra me aquecer nas noites frias de Curitiba, como hoje.
Agradeço a família maravilhosa que eu tenho. Não, ela não é perfeita, claro - nenhuma é. Mas, se há algo que nunca faltou foi amor, e este supre tudo.
...
Eu já errei muito. Muito mesmo. Mas aqui estou eu, sã e salva, firme e forte.
E por que?
O que eu tenho de especial que, mesmo após todos os meus erros, me faz ter tudo o que tenho - teto, comida, cobertor, família, saúde, amigos?
O que me separa da pessoa que eu sou do que aquele que dorme lá em baixo, na calçada de uma loja?
Serão os meus erros menores do que os dele?
...
Não.
O que me faz errar, e mesmo assim ter a possibilidade de continuar, é sorte.
E sorte, meu bem, nunca foi uma coisa justa.