quarta-feira, 2 de julho de 2008

"As cores cruelmente berrantes tornam a vida tão tristemente incolor..."

O título deste post é uma adaptação de uma frase de Risíveis Amores, que eu estou me demorando para terminar, saboreando ao máximo sua magnífica singularidade...

Mais um trecho que eu gostaria de eternizar:


"Ao contrário de nós, os personagens dos romances, das lendas ou das histórias engraçadas são feitos de uma matéria que não está sujeita ao desgaste da idade. Não, não quero dizer com isso que as lendas e as histórias engraçadas são imortais; é claro que elas também envelhecem, e seus personagens envelhecem com elas; só que envelhecem de maneira tal que seus traços não se modificam nem se adulteram, mas esmaecem, se apagam lentamente e acabam por se confundir com a transparência do espaço. É assim que vão desparecer Pépé le Moko, e Havel, o Colecionador; mas também Moisés e Palas Atena ou São Francisco de Assis; e imagine que os traços de São Francisco vão esmaecer lentamente, e com eles os passarinhos que estão pousados em seu ombro, o pavão que se esfrega em sua perna e o bosque de oliveiras que lhe empresta sua sombra; imagine que toda a sua paisagem vai lentamente se apagar com ele e se fundir com ele num azul consolador, enquanto eu, meu caro, tal como sou, nu, arrancado da lenda, vou desaparecer no pano de fundo de uma paisagem de cores implacavelmente berrantes e sob os olhos de uma juventude sarcasticamente viva."

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