domingo, 30 de agosto de 2009

Bienal

Desde o dia 27 está rolando a I Bienal do Livro de Curitiba, e é óbvio que eu compareci, né?!?!?
Dentre as várias atrações da feira, tinha algumas oficinas: romance, conto, crônica e poesia.
Como eu quero escrever um livro, pensei: "vou fazer a ofocoa de romance". Mas, como eu sempre sou atrasada, liguei lá para me inscrever, lotado.
"Ah, sério? Não tem mesmo como me encaixar?"
"Não."
"Hum... Então, tá, né... Eu quero me inscrever na oficina de conto."
"Lotado também."
"Ah!!! Não acredito!"
"..."
"Tá, e poesia, tem vaga ainda?"
"Tem sim. Como é seu nome?..."
E, assim, eu me inscrevi na oficina de poesia.

Veja bem: não é que eu não goste de poesia, mas é que eu não escrevo-as muito bem. Eu achava (até ontem, que foi o primeiro dia da oficina) que poesia rimadinha blábláblá era legal, mas preferia muito mais poesia com versos brancos e livres. Eu e muita gente, também.
Mas, o instrutor da oficina (é um professor da UFRJ, mas não me lembro o nome agora), que, aliás, tem uma incrível oratória, teve uma conversa muito legal, e falou muito sobre a poesia clássica, como os sonetos e as redondilhas. Coisas que ele falou me fizeram pensar sobre o meu preconceiro para tudo aquilo que segue um padrão, uma métrica; que possui um método para ser escrito.
Algumas partes interessantes que eu "roubei" da fala dele (não necessariamente com estas palavras, mas com o mesmo sentido - pelo menos com o mesmo sentido que eu entendi):

- O pretexto para escrever um poema não o legitima, isto é, sentir um sentimento louvável e escrever um poema sobre este não torna o poema bom;

- O verso livre deve ser conquistado a partir da superação do conhecimento do verso metrificado, e não a partir da ignorância deste (aliás, isto serve não somente para o verso livre, mas para todas as coisas que nós tendemos a não gostar exatamente por não as conhecermos);

- Ainda em relação à poesia clássica versus poesia "moderna": tá, desde 1922 temos que um poema não precisa ter rima nem métrica, isso é "moderno". Mas por isso temos que descartar todos os 2900 anos de poesia metrificada que temos na História, e ler apenas a poesia de uma década, e achar boa, e achar válida apenas a poesia do último século??? (isso me fez REALMENTE pensar).

(Tem outras coisinhas também que eu quero colocar que ele falou, mas vou por em outro post.)

É claro que, por ser uma oficina de poesia, não ficamos apenas discutindo o assunto - tivemos também tarefinhas para casa, nenhuma muito simples (pelo menos não para mim, que quase nunca fiz versos rimados na minha vida!). Aqui está um dos "desafios":

Fazer um poema com cinco quadras (!), todos com rimas alternadas (!!) e versos decassílabos (!!!), utilizando, na primeira quadra, as palavras viver e porta (sendo que viver tem que vir, necessariamente, antes de porta na quadra), na segunda quadra pernas e seios, na terceira lábios e perto, na quarta compor e boa e na quinta chamas e carne (!!!!!!!!!!!!!!!). Ah, mas, para facilitar, os verbos poderiam ser flexionados... Ufa, facilitou muito!
=P

Enfim, eu acabei fazendo, e, quer saber? ADOREI! Foi muito gostoso ver que eu sou capaz de fazer algo assim... (Aliás, desde então eu virei fã de Camões, que escreveu 8816, sim, OITO MIL OITOCENTOS E DESESSEIS versos decassílabos, heróicos e rimados... Vou ter que ler Os Lusíadas agora!)

Quando, à noite, pontual, ela aparece
vive o cuco, anunciando a triste hora,
e nesta vil casa onde ela não mora,
dez horas fecha a porta e abre a prece.

No quarto onde a esperança é rala, pouca,
está à espera o seu próximo dono.
Numa cama onde não existe o sono
encontram-se pernas, seios, mão, boca.

Nos lábios dele se encontra um cigarro,
nos lábios dela se encontra a repulsa.
Do corpo vazio sua alma é expulsa;
tão perto do céu, tão suja de barro.

Então sozinha de novo ela espera,
calada compõe seus versos de adeus.
Sai da boca mudos segredos seus:
o sorriso falso, a angústia sincera.

Enfim a noite infinita termina,
mas não se apagam as chamas que a gelam.
No fim das noites, os dias revelam
a carne podre: está morta a menina.



;)
ps: eu acho que tem alguns erros de concordância aí, mas faz tamto tempo que eu não tenho aulas de gramática que eu vou deixar assim mesmo...

2 comentários:

Lucemary disse...

Nooooooooooooooooooossa!!!!!
...
Eu amei, tudo!
Primeiro a maravilha da sua iniciativa (já que não tem romance nem conto, vamos de poesia mesmo) - e é sério isto.
Depois o efeito disto em você (nunca é tarde pra conhecer, pra aprender, pra mudar, enfim).
Depois seu poema - claro, como não poderia deixar de ser, meio sorumbático, mas... seu. Perfeito (mesmo que tenha erros que não vi).
E por último, encontrar um post seu aqui. Fresquinho, recém saído do forno. :)
.
Tá, eu sei. Estou irremediavelmente corrompida pelo fato de ser mãe. Considerarei isto sempre como um desconto de pelo menos 25% na apreciação que faço de você.
Como a apreciação é sempre tendendo ao infinito perfeito, o desconto não há de fazer muita diferença...
:P
Amo. Sempre e todo dia.

Paula de Assis Fernandes disse...

quase um Augusto dos Anjos...
ahuiehuiaeea
mas gostei, mesmo!
e, ateh onde eu sei, coisa!, DESESSEIS é escrito com Z... dezesseis...
bjoo